Jonas - pesquisando fauna aquática de pertinho!

Estudar a bordo - opção para quem faz longas viagens  

Luciana Puech Leão

Ilhabela – Jonas, 11 anos e Carol, 10, saíram de Ilhabela em dezembro de 2005, para ficar 14 meses navegando, num projeto meticulosamente preparado por seu pai, o engenheiro Sérgio Amaro Gomes.
O projeto ganhou o sugestivo nome de “Três no Mundo – Três Visões do Brasil”, e pode ser conhecido em detalhes no site www.tresnomundo.com.br
Sérgio é viúvo, e antes da prematura morte de sua mulher, o projeto era para ser feito a quatro.

Alguns anos depois, superado o trauma, a viagem se concretizou a três, e a bordo do “Fandango”, um veleiro de 9,36 metros. Assim, as crianças assumiram o compromisso de “cursar” suas séries à distância.
Para isso, contam com o apoio e incentivo do Colégio São João Ilhabela, onde estudavam. A internet, através da qual mantêm vivo o contacto com os amigos, tem importante papel nos estudos a bordo do “Fandango”.

O colégio forneceu orientação, a lista dos livros didáticos e enviará as provas bimestrais por e-mail. Segundo a diretoria do Colégio São João, eles não terão dificuldades, pois são ótimos alunos, inteligentes, bem informados, e têm um pai atento e dedicado, que valoriza o conhecimento.
A seguir, os comentários dos três viajantes:

Jonas, Carol - Painel explicativo – Usina Nuclear de Angra.

Sérgio: “A escola está indo de vento em popa”

A “escola”, que era uma preocupação , está indo de vento em popa, mais por mérito dos alunos do que do professor.

Como estou acompanhando tudo, fica fácil notar e ressaltar alguma coisa que vemos no dia-a-dia. Em resumo, estamos tendo um “Estudo Aplicado”, que considero a forma  melhor de aprendizado, ainda mais com o professor ao lado 24 horas por dia.
Trouxemos todos os livros e eu aplicarei as provas para avaliar o aproveitamento . Todas as matérias estão sendo estudadas. Estamos aproveitando muita coisa do dia-a-dia para aprendizado.
Ciências, por exemplo, fica muito fácil, pois todo dia eles vêem animais, e comentamos a respeito, sobre adaptações ao meio ambiente, etc. Num livro havia uma referência a Chernobyl . Aproveitamos e fomos visitar a usina nuclear de Angra dos Reis.

Geografia, História do Brasil e Grandes Navegações ficaram com outra perspectiva com as visitas que fizemos à Parati, Trilha do Ouro, fortes e ilhas do local. E ainda vai crescer muito com o resto da viagem, visitando a Costa do Descobrimento, Olinda, Recife, Salvador, Abrolhos, etc. Vou tentar uma entrevista com o descendente direto de D. Pedro II que mora em Parati e tento ler livros que tenham a ver com os lugares que passamos, como “Cem Dias entre Céu e Mar”, do Amyr Klink.

No barco, estudando nos livros.

Português é o nosso dia-a-dia, com diários, livros e conversas. Fora o livro, ainda corrijo o diário deles e dou orientações para escre-verem bem, evitarem redundâncias, parágrafos muito longos, etc. Matemática eles estão adiantados e usei vários exemplos de navegação para explicar.

Não temos horário e nem matéria certa para cada dia. Como temos só um ano de viagem, optei por aproveitar o dia quando o tempo está bom e fazer estudos à noite ou em dias chuvosos”.
Ainda há outro “estudo” à bordo: é a divisão de tarefas, o aprendizado das responsabilidades de cada um, o respeito às culturas e pessoas diferentes, o como “se virar” em lugares desconhecidos e tentar se antecipar às tarefas que são necessárias, tomando iniciativas e sabendo que estamos todos no mesmo barco – literalmente – e que um depende do outro. Esse talvez seja o maior aprendizado que possamos ter na viagem”.

Aprendendo sobre tartarugas marinhas no Projeto Tamar de Ubatuba.

Carol: “A gente aprende mais no barco!”

Estamos vendo muitos lugares bonitos. Acho que sinto menos preguiça de estudar no barco. A falta de colegas não empobrece o aprendizado, mas sinto falta deles! A diferença é que normalmente se aprende mais no barco, porque aqui você vê mais animais (Ciências), a história de outros lugares do Brasil (História), a navegação e localização de onde você está (Geografia), o jeito de como as pessoas de cada lugar falam (Língua Portuguesa) e por aí vai.

Jonas: “A escola deveria adotar nosso método”

“Estudar no barco é até melhor que na escola, pois vemos várias coisas na prática. Por exemplo: velejar é matemática pura (regulagem de velas, navegação, etc.) e podemos conhecer várias coisas bem interessantes na prática, como a Usina Nuclear de Angra e Parques Naturais, como Ilha Anchieta - é mais gostoso e aprendemos mais no geral.

A falta de companheiros não atrapalha, embora eu tenha saudades. Não há bagunça na aula e o método de estudo é bem legal: escolhemos a matéria, lemos os textos, fazemos exercícios e, se tivermos dúvidas perguntamos para o pai, que também corrige os exercícios. Eu acho que esse método seria melhor até nas escolas, pois os professores demoram muito tempo explicando a matéria e depois resta pouco tempo para os exercícios. Fica “beeem” mais rápido! Em resumo, estou adorando!“